sábado, 1 de dezembro de 2007

Da Série Dialogos com meu ex-ogro consorte ou In the rabbit hole

No desespero de um efetivo contato humano, i.e., na necessidade de se comunicar com um ser de espécie semelhante, liguei para ele. Não me recrimine, bem ou mal ele ainda é um dos meus melhores amigos. Sempre foi e nunca vai deixar de ser. Porque ele é uma daquelas pessoas que conseguem me fazer rir e que têm paciência para me deixar chorar e, principalmente, porque ele entende o que eu digo, o que eu achei que era totalmente corriqueiro e de repente descobri que não, que entender o que eu estou dizendo pode ser surpreendentemente difícil.

É uma sensação estranha, não? Você está conversando sobre alguma coisa e começa a se dar conta de que as outras pessoas não estão entendendo o que você está dizendo. Como... não sei ao certo... como se você falasse uma espécie de híbrido, um portunhol, digamos assim. Uma parte do que você diz é na mesma língua dos demais, mas uma parte não é, e essa as pessoas simplesmente não conseguem entender. É muito, muito estranho ter que modular seu vocabulário para se fazer entender (eu sei que isso soa terrivelmente arrogante, mas não é... não, peraí, sim! Isso É terrivelmente arrogante, and so what?! Foda-se!), mas principalmente: isso é tremendamente cansativo! É incrível, mas se comunicar cansa e você simplesmente começa a se entendiar de tudo a ponto de pensar em desistir: “se comunicar para quê mesmo?” [há exceções, meus amores, há exceções. Porque o Universo (ou Deus, ou chame do que quiser, para mim não faz a menor diferença) é legal comigo mesmo que eu seja uma baita chata, ingrata e reclamona.]

Mas não era sobre isso que eu queria falar. Está difícil entrar no assunto. O fato é que a gente conversou sobre várias coisas importantes e pelo menos deu para aliviar um pouco essa sensação ruim. E deu para falar bobagem e pensar sobre coisas que achei interessantes, aqui está uma delas:

Ele me contou que, conversando com uns amigos, surgiu a pergunta "que personagem de filme você queria ser?" (tá, você vai achar que a pergunta é idiota, mas é divertido, vai.) E ele respondeu que queria ser o personagem do Jim Caviezel no Além da Linha Vermelha. Todos os amigos escolheram personagens que "comiam a gostosona" do filme. Não preciso prosseguir com nenhuma reflexão aqui, preciso? Se você é uma das pessoas que conviveu com meu ex-ogro consorte sabe o tom irônico/amargo/desiludido com que ele fez seus comentários. Até aí nada demais. É que pensando nessa idéia de "identifique-se com um personagem" não fiquei pensando propriamente em filmes, mas em contos de fadas – porque foi um assunto que havia surgido entre meus amigos da medicina.

Então, quem é você nos contos de fadas, ou qual seu conto de fadas favorito? Quando eu era bem pequena (por volta dos três anos), minha historinha preferida era Os Três Porquinhos (um triunfo da inteligência sobre a força bruta?), mas logo que eu cresci um pouco, meu conto de fadas preferido se tornou Alice no País das Maravilhas. Não o filme da Disney propriamente. Era um daqueles LPs coloridos que em vez de música traziam historinhas, eu tinha vários. Alice era um deles e eu sabia todo de cor. Dos contos de fadas, de longe esse era o meu preferido.

A questão é que Alice não é propriamente um conto de fadas, é? Achei divertido e me peguei pensando no que isso diz a meu respeito...
Alice não tem Príncipe Encantado, nem Fada Madrinha. Ninguém vai salvá-la, ninguém vai lhe dar recursos além dela mesma. "Eu sou Alice e estou à procura do coelho branco" - ela dizia umas mil vezes no disquinho. É movida pela própria curiosidade que ela vai atrás do "coelho branco" e é por isso que ela cai no País das Maravilhas. Não há maldição de bruxa, ela está lá inteiramente por "culpa" sua. Sozinha, ela precisa fazer algum sentido daquele mundo. Alice me parece basicamente uma história sobre tentar compreender. Sobre aprender o suficiente para "encontrar o coelho branco". Mais interessante é que no final a gente descobre que tudo aquilo não era senão um sonho dela e o que parece ser uma busca "no mundo" é na verdade uma busca que ela empreende dentro dela mesma. Uma bela alegoria sobre o auto-conhecimento?
Gostei de pensar que sim, mas não posso deixar de me dar conta de uma coisa: essa é uma história tremendamente solitária, não é? E Alice não termina "feliz para sempre".

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